ENTRE UNIVERSALISMO E IDIOSSINCRASIAS: DUAS CONCEPÇÕES DE XAMANISMO INFLUENCIANDO UM PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO DE GRADUAÇÃO
Palabras clave:
xamanismo, naturologia, paradigmaResumen
O artigo visou discutir a polissemia do termo xamanismo no seio da academia. De uma categoria de análise nascida na antropologia e na ciência da religião, ganhou outras conotações a partir do movimento nova era, retornando à academia através de cursos de ensino superior na área da saúde. Tomou-se como estudo de caso as diferentes compreensões do termo na formação curricular do curso de naturologia da UNISUL, em Santa Catarina, no sul do Brasil. Buscou-se resgatar as origens do termo e as polêmicas de diversas utilizações nos estudos de religião, as incorporações realizadas no seio da nova era e a introdução dessa prática, sob uma concepção reificada de xamanismo, no currículo acadêmico de formação de naturólogos brasileiros. Demonstrou-se como uma visão êmica e essencialista de xamanismo impactou a constituição e continuidade de um curso de ensino superior. Concluiu-se com esse caso que a dupla perspectiva que acompanha a discussão sobre o que é xamanismo percorre amplos setores sociais, ao ponto dessa nova concepção popular retornar à academia e passar a desafiar a concepção clássica. Com origens no meio acadêmico, o termo xamanismo tomou as esteiras de amplos setores sociais urbanos não apenas nos discursos, mas principalmente nas práticas do então neoxamanismo. Visto como um saber primordial, esses setores, com forte influência no caso do curso analisado, passaram a compreender o xamanismo como algo perene, uma tradição que serve a todos a todos os momentos, um saber de cura e transcendência.
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